A vida tem dessas coisas
Passo pela rua e vejo uma figura humana, maltratada, suja, fedida, rosto chupado, maltrapilho, um flagelo humano. Vacila de lá para cá, de cá para lá. Procura algo ali, procura aqui.O que procura, essa criatura?
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Foto: Reprodução |
Aquela figura humana não pede nada a ninguém. Não pede dinheiro, não pede comida, não pede roupas, não pede nada. Talvez tenha se cansado de pedir e ouvi sempre, não. Talvez tenha vergonha.
Não pede nada a ninguém, mas sente fome, sente cede, frio, tristeza.
Fiquei ali parado observando. O que será que ele tanto procura?
A resposta me veio dura e real. Ele busca restos de comida nas lixeiras da cidade.
A fome dói. Dói muito!
Rasga o saco de lixo, enfia a mão que depois leva cheia até a boca. O chorume escorre por entre os dedos. E enfim o homem se alimenta.
Do alto de minha ignorância afirmo, essas pessoas que vivem nas ruas, são imunes a doenças. Comem do lixo e não passam mal, não adoecem. O que não mata engorda, brinco com a miséria do outro.
Milhões de seres humanos vivem nessa situação. Só no Brasil mais de 10 milhões vivem abaixo da linha da pobreza.
Esses seres humanos são invisíveis, e quando os vemos, como foi o meu caso, sempre achamos que são imortais, fortes por viverem nas ruas. Quando os vemos, os vemos perambulando para lá e para cá. Mas quando estão se contorcendo de dores, frio e fome ou morrendo nas noites e madrugadas da cidade, não os vemos, pois estamos aconchegados de barriguinha cheia, agasalhados e protegidos no conforto de nossa casa, lazer ou trabalho.
Será que esse deve ser o comportamento ideal de um ser humano para com o outro?
Será que aquele ser humano é menos importante e menos digno do que nós por estar naquela situação enquanto nós reclamamos da vida de barriga cheia?
Este conteúdo é resultado do trabalho rigoroso e dispendioso de apuração, checagem e investigação do jornalista Claudio Campos e/ou da Agência 2CNews. Você pode republicar este conteúdo. Todas as republicações devem trazer o nome da agência (Agência 2CNews) e do autor (Claudio Campos) com destaque, na parte superior do textos.